Estudas medicina quando:
- toda a gente te pergunta com horror e expectativa se já viste um morto, sem importar o ano em que estás;
- os amigos dos teus pais identificam-te como 'aquele que estuda medicina' em vez de te tratarem pelo teu nome;
- todos os amigos e familiares te vêm pedir conselhos e ajuda quando alguma coisa lhes dói - mesmo que seja o teu primeiro dia, do teu primeiro ano;
- respondes aos convites dos teus amigos com um 'não posso, tenho que estudar' ou um 'não posso, tenho banco';
- amanhece sem te teres deitado - e não é por teres andado a curtir as discos;
- não importa o muito que estudes, cada vez sentes que te falta saber mais e mais;
- se vais passar um fim de semana fora, levas mais livros que roupa na mala;
- esperas com ansiedade o fim de semana para poderes estudar o que não conseguiste fazer durante a semana;
- estás mais familiarizado com os apelidos Rouviére, Harrison, Moore, Robbins, Netter, etc, do que com os apelidos dos teus colegas de curso;
- demoras pelo menos um minuto a responder à pergunta 'quanto dura o teu curso?';
- sentes que todos os teus colegas de secundário estão em cursos mais fáceis que o teu;
- questionas-te frequentemente com que idade acabarás por te casar ou ter filhos;
- puseste várias vezes a hipotese de mudar de curso, para comunição ou turismo;
- estás certo que 80 % dos teus colegas se casarão com uma enfermeira e que 80 % das tuas colegas simplesmente não se casarão;
- sentes que não restam coisas no mundo que te possam fazer nojo;
- descobres que não podes comer com os teus companheiros de curso sem, inevitavelmente, acabarem a falar de temas médicos;
- sentes-te menos se o teu estetoscópio não é 'Littmann';
- entendes automaticamente o significado de siglas como HTA, DPOC, ICAD, EPO, IL-2 ou EAM;
- não te doem os músculos - tens mialgias - nem tens sede ou fome - tens polidipsia e polifagia;
- uma pessoa não está deitada de barriga para cima, mas sim em decúbito dorsal;
- eliminaste do teu léxico o sufixo 'logia' e limitas-te a dizer
'morfo', 'micro', 'fisio', 'cardio', 'embrio', 'bio'...;
- tomas mais café que água, por dia;
- estranhas os dias em que consegues saber o que se passa com a actualidade nacional;
- apercebes-te que começou uma guerra, precisamente após esta ter terminado;
- cada vez que comes ou bebes algo, reparas na composição, calorias, pH e vitaminas;
- tratas de recordar todos os dias a razão pela qual entraste em medicina, e se não a encontras
consolas-te a pensar no tempo que falta para te licenciares.
Deixo aqui em seguida a transcrição do famoso Juramento de Hipócrates, documento histórico que marca o início da medicina científica e que, ainda hoje, é jurado pelos novos médicos aquando do acesso à Ordem. Sublinho algumas passagens que, para além da evidente actualidade, parecem simbolizar algumas das características (para não utilizar um termo mais apropriado) reconhecidas à classe médica em geral, e que servem, independentemente de serem reconhecidas como virtudes ou defeitos, para a caracterizar.
«Juro por Apolo, o médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomando por testemunhas todos os deuses e deusas, que cumprirei com todas as minhas posses e em plena consciência os seguintes preceitos: respeitarei o meu mestre como aos meus progenitores, partilhando com ele os meus bens, se necessário for; cuidarei dos seus descendentes como meus irmãos e ensinar-lhes-ei esta arte, se assim o pretenderem, sem receber qualquer pagamento ou promessa escrita; deixarei participar das lições orais e da prática médica em primeiro lugar os meus filhos, os filhos do meu mestre e depois aqueles que, por compromissos e juramentos, se declarem meus discípulos e acatem as regras da profissão, e a mais ninguém além deles. Prescreverei aos enfermos, segundo o melhor juízo e o meu saber, o regime conveniente para seu benefício, preservando-os de qualquer dano. Defender-me-ei das súplicas e dos agrados de quem quer que seja para lhes ceder venenos que possam causar a sua morte, nem tomarei a iniciativa de tal sugestão. Do mesmo modo, não fornecerei às mulheres meios de impedir a concepção ou o desenvolvimento da criança. Em todas as circunstâncias exercerei a minha arte com pureza e honestidade. (...) Abster-me-ei de toda a acção injusta e da voluptuosidade nos contactos com homens ou mulheres, sejam livres ou escravos. Tudo do que eu tiver dado fé, durante a cura ou fora dela, na vida familiar, conservá-lo-ei secreto, se não me for permitido divulgá-lo. Se eu mantiver e observar este juramento com fidelidade, que me sejam concedidas vida afortunada e honra na profissão, e que a minha fama se propague entre os homens e perdure no tempo; mas se eu me desviar dele ou o violar, que a sorte me seja adversa.»
Hipócrates (aprox. séc. V a.C.)
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